Anotações sobre o Encontro Mundial de Blogueiros – parte 2

Anotações sobre o Encontro Mundial de Blogueiros – parte 2

Dando continuidade ao 1º post sobre o I Encontro Mundial de Blogueiros, seguem as anotações sobre o evento. O Encontro aconteceu nos dias 27, 28 e 29 de outubro de 2011, no Teatro Barrageiro em Foz do Iguaçu – PR.

Debate: O papel das novas mídias

Com início às 9h, o encontro prosseguiu estruturado em mesas de discussão, em que os convidados sentavam-se lado a lado para debater os temas propostos.

Abrindo as discussões, Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks e um dos convidados mais aguardados para o evento, falou sobre as dificuldades encontradas após a retenção financeira e o bloqueio econômico sofrido de empresas financeiras, como a Visa, Mastercard e Paypal.

Hrafnsson revelou ter sido surpreendido com a falta de apoio dos grandes jornais, destacando o New York Times e o governo Americano como precursores da perseguição ao WikiLeaks.

Para ele, o que chamou mais atenção em meio a toda a polêmica sobre as atividades do projeto foi a perseguição a um meio que, na verdade, fez o papel de informar – o que deveria ser feito também pelos jornais.

Seguindo o debate, Ignácio Ramonet, criador do Le Monde Diplomatique, discutiu sobre as novas mídias e o papel dos chamados “web atores”. Para ele, graças aos novos meios, o mundo passa por uma fase na qual as informações surgem em abundância. Fase essa, que é marcada por uma constante transição nas plataformas de comunicação.

Ramonet citou como exemplo o Twitter, ressaltando que, apesar de atualmente esse ser o principal meio em expansão, dentro de 5 anos, com certeza, o fenômeno já terá sido substituído por muitos outros. Isso porque vivemos em uma época em constante evolução e sem vocação para estabilidade.

O palestrante ainda destacou como característica dos blogs, o fato desses meios abrirem espaço para a produção e disseminação de conteúdo, acrescentando novos aspectos e aumentando o ruído das informações. Segundo ele, os blogueiros são responsáveis por complementar informações ao permitirem análises, comentários e observações de outros web atores.

Encerrando as discussões da mesa sobre “o papel das novas mídias”, o jornalistaLuis Nassif debateu sobre como as agências noticiosas utilizam a informação como uma arma política e econômica.

Segundo Nassif, o verdadeiro poder da blogosfera está justamente em sua capacidade de criar redes de informações, pois para ele “não importa a ferramenta, o importante é o modo como você se organiza e como faz uso de suas informações”.

Experiências nos EUA e Europa

A segunda mesa de discussões contou com a palestra do blogueiro e fundador do sítio Rebelión, Pascual Serrano.

Abordando as dificuldades enfrentadas pelos ativistas do passado, Serrano traçou um paralelo com a realidade atual, afirmando que hoje em dia “não há desculpas para não escrever, pois há sempre um ou mais meios para publicar seu conteúdo.”

Ao relembrar a evolução das páginas na web, o desenvolvimento dos buscadores e a multiplicação dos internautas, o blogueiro deu início a uma análise crítica a respeito das novas mídias. Destacando a popularização das redes sociais, o palestrante levantou uma importante reflexão: será que os novos meios cumprem a tarefa de oferecer conhecimento para a mobilização e ainda fornecer idéias maduras aos ativistas?

Afinal, “que elaboração de idéias pode estar presente em apenas 140 caracteres?” – questionou o blogueiro espanhol, referindo-se ao Twitter como um pequeno espaço, capaz de desenvolver poucas ideias.

Seguindo essa reflexão, Serrano exaltou a importância em se reivindicar um jornalismo mais consciente e também profissionais qualificados para um serviço democrático e eficaz da informação.

Dando continuidade ao debate, Andrés Thomas Conteris, fundador da versão em espanhol do Democracy Now (EUA), abriu seu discurso falando sobre o papel do blogueiro em contar histórias que ninguém contou e ir onde os meios de comunicação dominantes não querem ir.

Para ele, o ativismo digital deve ser encarado com entusiasmo, caracterizando o blogueiro como um ser comprometido com a transparência e com a verdade, buscando noite e dia o conteúdo.

O debate contou também com um minuto de silêncio, dedicado aos ativistas que morreram na luta a favor da democracia.

Experiências na Ásia e África

O último debate teve início com o ativista egípcio, Ahmed Bahgat, que contou sobre a perseguição sofrida pelos blogueiros no Egito e as dificuldades em organizar manifestações através do ambiente virtual.

Responsável pela criação do primeiro grupo social de protesto egípcio no Facebook, Bahgat admitiu não ser exatamente um blogueiro, mas ainda assim, aproveitou da força da internet para atingir círculos e reunir pessoas dispostas a unirem-se a ele.

Aproveitando o clima de protesto, Ahmed Al Omran comentou sobre suas experiências como blogueiro da Arábia Saudita e as manifestações organizadas em meio a um cenário, onde, por exemplo, as mulheres ainda são proibidas de dirigir.

Mesmo com as dificuldades, Omran demonstrou força de vontade, declarando que a liberdade de expressão por si só já é um motivo para se revoltar e colaborar para que a população ultrapasse a barreira do medo e saia às ruas.

Contando com uma apresentação acompanhada por vídeos a respeito da atual realidade “virtual” do Paquistão, o blogueiro Muhammad Farhan trouxe ao encontro dados sobre o crescimento e a expansão das mídias sociais em seu país.

O palestrante também relatou casos como os esforços do governo em bloquear o acesso dos paquistaneses a sites, como o YouTube e Facebook, com a desculpa de estarem evitando atividades terroristas.

Encerrando o debate sobre as experiências na Ásia e África, o jornalista Pepe Escobar complementou as discussões levantadas pelos blogueiros, traçando um histórico sobre o cenário encontrado na África e Oriente Médio e levantando questões a respeito de fatores econômicos, sociais e políticos.

I Encontro Mundial de Blogueiros contou com a transmissão ao vivo das mesas de discussão via internet e participação ativa dos twitteiros de plantão. A intenção era emplacar a hastag #blogmundofoz no Trend Topics do Twitter – mesmo com a acirrada disputa pelas tomadas disponíveis no Teatro Barrageiro da Itaipu Binacional.

Sou apaixonada por Marketing Digital e fundei a Enlink há 11 anos. Na bagagem de estudos, trago formação em Comunicação Social pela UFPR tenho MBA em Gerenciamento de Projetos pela FGV, além de ter palestrado em eventos nacionais e dado vários cursos na área.